sexta-feira, 4 de maio de 2012

"Mais uma dose, é claro que eu tô a fim (Frejat)"

Fazia tempo que não deixava meus sonhos reinarem meus pesadelos. Sim, eu tive medo de mim.
"Os paraísos perdidos estão somente em nós mesmo" (Marcel Proust),  eu costumava acreditar desde que li esta frase. Naquela época, cessou-se o sofrimento, o temor da perda, os desacordos, as decepções e consequentemente(?), aumentou meu consumo de café. Não sei ainda identificar se foi o sentimento da própria perda, do que nem existia, que me fez transformar ou o café em si. Café sem açúcar claro, mas cheio de afeto. Cada xícara agora, me traz os deliciosos sintomas da paixão. Isso eu descobri hoje, a mesma sensação de taquicardia "que faz perder o ar e a razão e arrepia o pelo da nuca"(Lenine), mãos que suam, dedos que tremem com suas pontas geladas, "é um não querer mais que bem querer"(Legião). É suficiente uma dose a mais para que a paixão volte, "minha cabeça perder teu juízo"( diria Caetano). Estou ciente do risco de apaixonar-me por uma xícara ou mais de café e sei também que ela não irá cantar-me palavras de amor, mas afinal, quem se importa? Para isso que existem diálogos como o de Casablanca, que agora soa-me como um belo tapa na cara: "Você me despreza, não é? Se eu pensasse em você, provavelmente o desprezaria.".
Um brinde de café preto, sem açúcar, à maior dor que existe: a dor do amor.


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